Encantos de Serpa:
Faça uma visita a Serpa, onde o conjunto urbano que se construiu e entrelaçou ao longo dos séculos é tão vivo e harmonioso que vale por si.
Quando o conhecimento se aprofunda e, para além da beleza das ruas, acontecem surpresas, como o Museu Etnográfico ou o Museu do Relógio,
difícil será não lembrar a máxima que um ferreiro da terra afixou na oficina: “Tudo o que vale a pena ser feito, vale a pena ser bem feito”.
Do Largo D. Jorge de Melo, junto ao posto de turismo, sobe uma escadaria que dá acesso ao Castelo Velho, reconstruído no reinado de D. Dinis.
Estamos no Largo dos Santos Próculo e Hilarião, onde se ergue a torre do relógio, provavelmente construída no reinado de D. Sancho II
sobre a muralha islâmica, e a Igreja Matriz de Santa Maria (séculos XIV-XVII), que talvez tenha ocupado o lugar de uma mesquita.
A entrada para o castelo, sob as ruínas de uma das suas torres, constitui a memória viva da vingança do duque espanhol de Ossuna, que, aqui como em Moura, não abandonou a fortaleza sem a marcar com o seu ímpeto destruidor.
Logo à direita, podem ver-se resultados de trabalhos arqueológicos recentes e, no terreiro, o Museu Arqueológico.
Subindo à torre e fazendo o percurso da muralha até ao fim, obtém-se uma perspectiva única sobre o casario térreo do primitivo arrabalde e o Palácio dos Condes de Ficalho, edificado no século XVII pelos irmãos Melo.
Voltando ao ponto de partida, a vila oferece-se à descoberta através de
ruas que nos fazem deambular entre casario singelo de sabor popular e nos revelam a pujança que, em particular nos anos 800 e no princípio do século, permitiu a construção de grandes casas com belas janelas de sacada de ferro forjado e imponentes lanternins.
Muitas delas exibem um gosto historicista: a par de alguns arcos ogivais e janelas manuelinas que identificam algumas casas quinhentistas, encontram-se, em edifícios
recentes, pormenores decorativos reveladores da época que criou o neomanuelino, o neomudéjar e o neobarroco, às vezes misturados na mesma fachada.
Tomando as Ruas de Pedro Anes e da Cadeia Velha, passa-se pelo santuário e chega-se ao Largo de S. João, onde a arquitectura civil quinhentista se expressa numa bela casa com duas janelas maineladas.
À esquerda, abrem-se as Portas de Moura. Prosseguindo intramuros,
entra-se no Largo de S. Paulo, junto à igreja e ao antigo convento, hoje hospital.
Cruzando a abertura da muralha, passa-se para o Largo do Corro, outrora lugar de mercado.
Com o tempo que a obra merece, imprescindível será visitar o Museu Etnográfico, instalado no edifício, reconvertido, do antigo mercado municipal.
Continuando no mesmo sentido, atinge-se a Rua de Sevilha, que dá acesso, junto a uma casa representativa do Programa da Casa Portuguesa, ao Largo João Prelado e, por pequena travessa, ao Largo do Salvador, marcado pela fachada da igreja quinhentista.
A partir daqui, vale a pena passear pelo Bairro do Outeiro, um dos primeiros arrabaldes a formar-se após a Reconquista, percorrendo a Rua da Amendoeira e regressando do Largo da Cruz Nova pela Rua de S. Roque.
Na Rua do Calvário, que se toma à direita junto à casa de petiscos O Gato, esconde-se, entre ciprestes, cactos e oliveiras, uma minúscula Capela do Calvário. O Largo 5 de Outubro e a Rua do Calisto colocam-nos de novo na Rua de Sevilha.
Percorrendo-a agora no sentido oposto, cruzamos a Manuel Corte-Real Abranches no ponto onde se localizava a Porta de Sevilha.
O regresso à vila intramuros faz-se pela aristocrática Rua dos Fidalgos, que conduz à Praça da República, centro da vida urbana actual.
Deixando a praça pela Rua dos Cavalos, encontra-se a Rua do Assento,
que, nas salas abobadadas do Convento do Mosteirinho, acolhe o já famoso Museu do Relógio, de António Tavares d'Almeida, único na Península Ibérica, onde se expõem 1100 relógios.
Esta rua conduz-nos à muralha e, à direita, a um dos mais pitorescos recantos de Serpa: a Rua
dos Quartéis, onde, depois do nº 20, ainda se descobre uma janela manuelina entaipada.
De novo na Rua dos Cavalos, não vá em frente, rodeie o quarteirão para
observar o resto da fachada do Convento do Mosteirinho.
A Rua do Poço da Talha cruza-se, junto à casa com janela de canto, com a do Governador,
que, no fim, oferece o aroma inconfundível de uma roupa ria.
Prosseguindo na Rua dos Canos, o queijo de Serpa volta a chamar-nos na
Rua de Nossa Senhora, junto à abertura da muralha, que proporcionará
uma última incursão extramuros, desta vez para apreciar, na Rua dos
Arcos, a gigantesca nora e o aqueduto construídos para abastecimento
exclusivo de água ao Palácio do Condes de Ficalho.
A reentrada na vila faz-se pela Porta de Beja.
Em frente à Casa da Muralha, uma loja de artesanato apresenta uma colecção significativa da produção regional.
Subindo a rua, cruza-se a Rua de Nossa Senhora num ponto em que se justifica descer um pouco para, entre as duas entradas da Sociedade Filarmónica de Serpa, ver o portal quinhentista da Igreja da Misericórdia, remodelada no século XVII.
Mais uns passos e reencontra-se o ponto de partida.